Cabelo Cresce (A Crônica do Desapego)

Acho que poucas coisas me deixam mais angustiado do que cortar o cabelo. É um momento bem tudo ou nada em que você confia a uma pessoa o destino do seu cabelo durante as próximas semanas. Tenho certeza que para algumas pessoas é ainda pior, em especial quem gosta de cultivar a cabeleira para, após certo tempo, tentar fazer alguma coisa radical. Pode ser algo planejado, estudado de maneira bastante extensa, com referências do Pinterest e talvez vídeos no Youtube, ou pode ser algo impulsivo, decidido na hora, no salão.

Comigo é mais simples do que isso. Um dia eu falei para um barbeiro lá em Barcelona, do Yeees Barbers!, um lugar bem central onde os funcionários obrigatoriamente participavam de alguma tribo de raves, alguns eram mais bombados que Kléber Bam Bam e usavam aquelas camisas regata que mais pareciam um avental, e outros mais ou menos o oposto disso. Cheguei lá e disse pro cara que queria algo mais modernoso e que não seguisse o esteriótipo que um branquelo gordinho fosse ter. Dei essa liberdade e saí de lá com um belo topete rockabilly que eu faço questão de tentar conservar sempre que possível.

Voltei lá mais de cinco vezes, mais pelo preço do que pela música ambiente do lugar, que parecia ser uma playlist para quem vai para Ibiza e nunca mais encontrei o mesmo barbeiro. Desde então eu sigo a rota mais segura: para qualquer pessoa que vai cortar o meu cabelo eu mostro a mesma foto do dia que saí, super contente, com o visual novo.

Eu não sei exatamente se você, caro leitor, fica tão tenso(a) quando vai ao cabelereiro/barbeiro, mas eu fico. Se o corte não for o esperado, quem vai esperar sou eu para que ele cresça de volta, com um desgosto enorme. Acho até que o investimento em pagar mais vale a pena. Não porque eu acho que vou ficar igual a Brad Pitt ou Michel Teló, the Brazilian Brad Pitt(!), mas porque eu quero evitar, na medida do possível, que dê em merda.

Hoje fui cortar o cabelo num lugar recentemente apelidado pelo meu pai, de forma não tão carinhosa, de Cabelo Cresce. Já tinha ido lá duas outras vezes. Uma tinha dado errado, não catastroficamente, mas certo realmente não tinha dado. Dei uma segunda chance e foi melhor, mas antes disso meu progenitor tinha se lascado, o cabelo ficou parecendo um morrinho de cuscuz (daqueles que a gente brincava enquanto criança, “até a morte”) e ele, bastante cabreiro.

No final das contas, acabei indo lá mesmo, com o coração apertado e bastante apreensivo, mas com uma certeza: por mais que fique ruim, cabelo cresce.

 

A cena de e-Sports atual: um [extenso] relato

Este texto era para ser um pequeno email introdutório aos participantes da mesa “A Indústria de games moderna e sua relação crescente com o showbusiness: uma revolução no mercado do entretenimento” que faz parte do III Seminário de Economia Criativa do Porto Digital, porém acabei me empolgando e meio que revisando e editando essa tradução que eu fiz há mais de um ano: Starcraft: trazendo atenção mundial aos e-Sports.

O texto é grande, mas pra quem tem interesse no assunto é um prato cheio. Pelo menos eu acho 🙂

Apesar de serem relativamente recentes, os jogos digitais têm evoluído de maneira expressiva nos últimos anos. Passamos de gráficos pitorescos e jogabilidade comprometida para um mundo em que quase não há limite em relação às possibilidades que podem ser exploradas pelos desenvolvedores de jogos. São diversas pessoas online, modos multiplayer com até milhares de pessoas interagindo simultaneamente, sensores de movimento e gráficos surpreendentes.

Em meio a todo esse processo e uma intensa profissionalização da indústria de games, um nicho vem se tornando evidente a cada instante que se passa. Os jogos, que desde sempre instigaram a mente humana por estarem em sua grande maioria associados à competição com outras pessoas, tornaram-se atração digna de espetáculo. Além do interesse em competir, palavra-chave deste fenômeno, uma outra característica tem emergido: um grande público sedento por presenciar tais torneios, abraçar times e vibrar a cada vitória.

Não somos apenas mais torcedores dos esportes tradicionais, que voltam a centenas e alguns a milhares de anos de prática. Há um grande público interessado no que está sendo comumente chamado, apesar de sua devida controvérsia levantada por alguns que se prendem ao conceito “analógico” do termo “esporte”, de e-sports, ou Esportes Eletrônicos, uma vez que são ligados impreterivelmente à competição através de uma relação quase perfeita entre coordenação motora e reflexos ágeis à estabilidade mental, ao raciocínio rápido e o trabalho em equipe.

Aproveitando o nascimento desta nova cultura, as desenvolvedoras de jogos começaram a investir pesado no que parecia ser o correto para o futuro dos jogos. O começo foi bastante árduo, uma vez que o conceito novo não era tão fácil de ser assimilado pelo público em geral e o país que recebeu os e-sports e foi responsável por grande parte do seu desenvolvimento foi a Coreia do Sul, que estimulava a sua população ao uso dos computadores e da internet através das LAN houses ou PC bangs como são chamadas lá. Os sul-coreanos logo demonstraram interesse em jogos e, consequentemente, foi sendo criada uma cultura gamer que se estabeleceu com tanta força que hoje em dia a Coreia do Sul também é chamada de Meca dos Games.

Ao mesmo tempo em que o Ocidente ainda engatinhava com torneios de menor impacto e restrito a nichos de gamers mais dedicados e interessados nesta nova cultura, a exemplo da WCG – World Cyber Games, a Coreia do Sul realizava torneios a nível nacional com a participação de centenas de competidores, grandes premiações e eventos com produção digna de uma cerimônia do Oscar.

A dedicação e a competência do público asiático despertava a atenção de vários gamers do Ocidente, que muitas vezes varavam a madrugada para acompanhar campeonatos realizados em fuso horários invertidos. Lentamente, através de alguns competidores pioneiros, ou progamers – professional gamers, como também são chamados, que, perseguindo seus sonhos de viver o mundo dos games e seus torneios, foram viver na Coreia do Sul.

Com o passar do tempo, devido à evolução tecnológica e à sensível melhora na qualidade das conexões à internet, o mundo todo podia acompanhar, cada pessoa de sua casa, os campeonatos mais emocionantes de jogos como Starcraft, Warcraft III e Counter Strike.

Na Global Starcraft League, GSL, que liderava nos quesitos de organização e público, chegando ao cúmulo de que canais privados de televisão no país compravam os direitos de transmissão para tais eventos e a formação da KeSPA – Korean e-Sports Association, ligada ao Ministério de Cultura, Esportes e Turismo do governo coreano com o objetivo de regulamentar a prática de jogos eletrônicos, os torneios e todo o sistema que o envolvia.

Os times formados estavam cada vez mais profissionais e, por isso, obtinham patrocínios de empresas de renome no mercado, como grandes empresas de telefonia e de tecnologia. Também foi observado que os times que treinavam juntos fisicamente conseguiam um resultado melhor, sendo possível a organização de horários de treino e um maior espírito de equipe. A resposta disso foi a criação das gamer houses (casas administradas por um time e sustentadas através do dinheiro de patrocinadores e/ou prêmios conquistados e que abrigava todos os membros da equipe).

De apartamentos na Coreia do Sul abarrotados de beliche e condições que nem sempre eram ideais, com horários de jogo muitas vezes considerados nocivos, uma vez que alguns times faziam seus jogadores praticar de 12 a 14 horas por dia principalmente quando havia algum torneio em vista, à mansão da Curse Gaming, filiada ao portal de notícias sobre jogos eletrônicos Curse, no valor de U$2 milhões e câmeras em vários cômodos da casa no melhor estilo Big Brother, a maneira como nós observamos os games está cada vez mais diferentes.

Aqueles que perseveraram e conseguiram mostrar capacidade de se superar a cada partida, de inovar contra estratégias tidas como invencíveis e por fim ganhar vários torneios, ganharam status de celebridade. Pessoas como o sul-coreano Lim “BoxeR” Yo-Hwan tinham contratos que chegavam a U$400.000,00 por ano e eram ovacionados por seus fãs – que em certo momento chegaram a ser mais de 1 milhão em seu fã clube oficial – a cada vez que apareciam ao público.

Outros ex-jogadores, como o americano Sean “day[9]” Plott, vislumbraram a carreira de narradores e gurus especializados nos jogos com os quais se identificaram. Armados de comentários e insights inteligentes, um grande carisma e disposição para investir várias horas em neste novo “trabalho”, alguns narradores de maior sucesso, a exemplo de Sean, seu irmão Nick “Tasteless” Plott – que há anos faz dupla com Dan “Artosis” Stemkoski e que foram contratados para viver na Coreia do Sul e narrar na língua inglesa os campeonatos lá realizados, também encontraram uma maneira de viver e viraram, de sua maneira, uma outra atração para o “show”, ganhando cachês para narrar os maiores campeonatos de e-Sports do mundo.

Concomitantemente a este fenômeno, o público estava sedento de ter um acesso físico a tais torneios, pois por mais divertido que seja acompanhar os eventos na televisão ou através de transmissões na internet, há um fator que é insubstituível: o efeito da aglomeração humana em torno de um interesse mútuo. Desde o Carnaval a um show de música, não há nada como estar junto a pessoas que compartilham de um mesmo interesse, que gritam a cada partida ganha e oponente derrotado.

Na Meca dos Games chegaram a haver finais de campeonato nas areias das praias, com enormes palcos e telões de transmissão e públicos de mais de 120 mil espectadores vibrando pelos atletas. Por sua vez, o Ocidente soube identificar a tendência e, principalmente nos Estados Unidos, houve uma grande difusão da cena profissional e dos torneios.

De maneira mais amadurecida, a World Cyber Games tomou corpo e ganhou proporções maiores, com cerimônias de abertura inspiradas nos Jogos Olímpicos e centenas de atletas de diversos países participando. Um visionário empreendedor norte-americano chamado Sundance DiGiovanni criou a Major League Gaming inspirada nas Major Leagues americanas que toma forma como um evento intinerante que visita várias cidades do país reunindo milhares de pessoas por evento e distribuindo dezenas de milhares de dólares em prêmios. Um outro ótimo evento para exemplificar a grande importância dos esportes eletrônicos é a série de campeonatos Intel Extreme Masters, patrocinada pela fabricante de hardware Intel. São vários campeonatos realizados em várias regiões do planeta e que culminam num evento final que distribui alguns dos maiores prêmios já vistos.

Em meio a todo este turbilhão de acontecimentos e com a consequente popularização dos esportes eletrônicos, o oligopólio de empresas como a Blizzard (Starcraft I e II, Warcraft III) e a Valve (Counter Strike) foi sendo diluído com novos players no mercado, como a Riot Games (League of Legends), Activision (Call of Duty), Microsoft (Halo), Capcom e Namco (Jogos de luta).

Responsável pelo desenvolvimento de um dos maiores sucesso da atualidade, a americana Riot Games em pouco mais de 3 anos de existência conseguiu desenvolver não só um jogo que consegue atrair um público massivo de dezenas de milhões de pessoas, mas que também as cativa de maneira impressionante, a Riot é uma das maiores entusiastas dos esportes eletrônicos, com seus óbvios motivos.

De maneira paralela à maneira “normal” de se jogar o League of Legends, os melhores times são convidados para jogar os campeonatos realizados pela Riot Games. Os prêmios são dos maiores que se podem encontrar no mercado, com o evento final da segunda temporada distribuindo U$2 milhões e um público de aproximadamente 8500 pessoas lotando um ginásio de basquete da University of South California adaptado a uma estrutura de show impressionante, além da transmissão pela internet para um público que chegou a 1,1 milhão de espectadores simultâneos (isso sem contar que, por exemplo, na minha casa éramos 5 assistindo!). Já se foi divulgado pelos diretores da empresa que na terceira temporada o objetivo é prover sustento financeiro para os jogadores que se qualificarem para participar do campeonato oficial, mostrando cada vez mais o comprometimento que as desenvolvedoras têm e o retorno obtido com os e-Sports.

Um fato nem sempre conhecido é que o League of Legends tem como seu produtor principal Steve “Guinsoo” Feak, que foi o criador do mapa/modificação do jogo Warcraft III chamado Defense of the Ancients Allstars, ou DotA Allstars, um grande sucesso jogado por centenas de milhares de pessoas. Com a saída de Guinsoo e seu projeto para criar um jogo independente baseado no seu sucesso, a comunidade que jogava DotA não deixou o o game morrer e, através do seu mantenedor, o até hoje anônimo IceFrog conseguiu ainda elevar o sucesso do mapa, a ponto de que a empresa Valve, que há muitos anos é parceira de negócios da Blizzard, a desenvolvedora do popular Warcraft III, obteve os direitos para desenvolver e publicar a continuação do DotA.

Após vários anos de muita expectativa, o DotA 2 foi lançado com grande alarde e investimento em sua divulgação. O ápice disso foi o campeonato realizado em comemoração ao lançamento do jogo que distribuiu U$1,6 milhão de dólares, sendo apenas U$1 para o time ucraniano Natus Vincere em seu primeiro torneio anual The International.

A consolidação de uma cena em que os esportes eletrônicos se tornaram uma maneira de viver e uma forma de entretenimento para o público não se restringe apenas aos jogadores, narradores, donos de equipe e patrocinadores, ela fomenta algo muito maior. Na produção destes eventos estão envolvidas centenas de pessoas de diversas formações, como produtores de evento, operadores de vídeo, áudio e iluminação, jornalistas e relações públicas, seguranças, etc. Através de um mote como os e-Sports é desenvolvido ao seu redor um ecossistema de suporte.

A Major League Gaming inovou neste aspecto de desenvolvimento em infraestrutura de evento após uma de suas edições, a MLG Dallas 2011, ter problemas com a conexão à internet e prejudicar o andamento dos torneios. Para evitar que isto acontecesse outra vez, foi contratada a mesma empresa de internet via satélite que proveu conexão para a transmissão ao vivo do casamento do Príncipe William e Kate Middleton para todo o mundo, mostrando mais uma vez que os eventos têm poder e tem uma demanda que justifica tais investimentos.

Outra forma de negócio absorvida pelos e-Sports foi a criação de portais para a transmissão online de jogos realizada de maneira independente por cada jogador/broadcaster que queira fazê-la. Este fenômeno, que de certa maneira é um videolog ao vivo e interativo, levou várias pessoas a tentarem obter a fama e terem um lugar dentro da indústria dos games. Muitos dos narradores e comentaristas que hoje em dia são contratados por desenvolvedoras ou eventos começaram da maneira mais simples possível através da transmissão realizada em sua própria casa.

Os últimos 3 anos foram excepcionais para a quem soube fazer uso disso. Empresas que preferiram investir em jogos na maneira tradicional, sem tentar engajar seu público de maneira mais ampla, muitas vezes não tiveram o sucesso que poderiam ter tido caso tivessem tomado um rumo diferente. Ou não, uma vez que nem todo jogo é adaptável a experiências ao vivo como no caso da “tríade” atual Starcraft II (estratégia single-player, comparável em sua devida proporção ao xadrez), League of Legends (ação/estratégia, comparável em sua devida proporção ao futebol americano) e Counter Strike (tiro em primeira pessoa, comparável em sua devida proporção ao paintball).

No mundo dos e-Sports mais uma vez o Brasil engatinha, pois, por diversos fatores, as condições para o desenvolvimento da cena não são tão favoráveis quanto em outros lugares. Em vários outros países, principalmente na Ásia, há um certo entendimento sobre a importância dos jogos na vida de várias pessoas e as possibilidades de se almejar uma carreira no mundo dos games. No Brasil há um fluxo muito bem consolidado na criação de uma pessoa, que vai seguindo escola-cursinho-faculdade-estágio-emprego, nem sempre sobrando o tempo necessário para se poder perfeccionar o jogo ao mesmo nível em que outros conseguem pelo mundo. O segundo fator, que está sendo superado à medida do possível é em relação à localização dos servidores e a latência (tempo de resposta do comando enviado do computador ao servidor do jogo e o caminho inverso) que varia de acordo com a distância. Por serem os principais centros de desenvolvimento e operação, os Estados Unidos e a Europa, com uma devida parte na Ásia também, são os principais pontos de localização, provendo uma experiência superior aos que moram mais perto e o inverso para quem está mais distante.

Os brasileiros, desde o começo dos torneios profissionais lutaram bastante contra isso e eventualmente acabaram, na medida do possível, superando tais adversidades, ainda que parcialmente. Um fator importante a ser observado é o comportamento do público brasileiro, que tende a ser entusiasta de novos jogos que estão na “moda” e consumir o conteúdo que é produzido. Tal fenômeno é constatado a partir do momento em que a jogos começam a ser licenciados para empresas brasileiras como a Level Up Games e o investimento maciço que a Riot Games fez para criar um servidor exclusivo para o Brasil, com a instalação de um escritório em São Paulo e serviços de localização de conteúdo, onde o que é produzido não é só traduzido, mas também é trabalhado um contexto de identificação com o público, como sotaques e conhecimento geral local.

O maior sucesso obtido nos e-Sports brasileiros foi a vitória do time Made in Brazil na ESWC 2006 – Electronic Sports World Cup, realizada em Paris, na França. Na ocasião, os atletas da MiBR venceram grandes nomes do cenário internacional de Counter Strike e foram responsáveis por trazer mais interesse à cena de esportes eletrônicos no Brasil, sendo o único título brasileiro em um campeonato mundial deste game. Nas WCG o país tem mantido forte sua tradição em títulos de futebol (série FIFA), jogos de corrida (séries Need for Speed) e sinuca (Carom 3D).

Mais recentemente algumas empresas, principalmente de lojas de informática com foco no consumidor gamer, a exemplo da FireGamers e Gamer House, criaram seus times, oferecendo patrocínio em troca da divulgação de seus nomes. Também seguindo a tendência, fabricantes de periféricos para games (mouse, teclado, headphones, joysticks, etc.) e componentes de computador, como a Razer, Corsair e a brasileira X5 Computadores, começaram a investir nos times brasileiros.

É incrível que nos pouco mais de 2 anos que eu tenho acompanhado isto mais de perto tanta coisa tenha acontecido. Apesar de haver um background riquíssimo em informações, várias delas estão aí em cima, há um futuro ainda mais próspero para a cena de e-Sports global.

* ironicamente, 90% deste texto foi escrito de maneira “offline” enquanto eu estava no avião vindo aqui para São Paulo para participar da Campus Party e, muito obviamente, da Intel Extreme Masters. Depois aqui no hotel revisei e adicionei algumas citações para deixar o conteúdo mais completo.

Ugo “Storydor” Portela Pereira.

Uma análise sociocultural e ecoturística do Encontro Nacional de Estudantes Erasmus da Espanha 2011 – Ibiza

Esse foi o título da redação que eu entreguei para minha professora de espanhol por ter passado uma semana sem ir à aula. Ela pediu isso para cada um da gente que viajou, uma redação sobre como foi por lá. Eu particularmente gosto de avacalhar-brincar com os títulos, principalmente quando a professora dá essa liberdade e é bastante gente fina. Por sinal, eu poderia até passar mais tempo falando dela, mas vou deixar para um post mais sobre minha vida por aqui, não sobre os acontecimentos em Ibiza.

Elucubrações a parte, mais uma observação: eu odeio reescrever textos que eu não tenho a cópia original. Entreguei o papel para Raquel, a professora, e não tenho outra cópia. Não vou forçar minha mente a reescrever o texto pelo mesmo caminho, até porque aqui tenho mais liberdade e espaço [físico mesmo, porque lá eu tinha uma folha de papel e uma caneta, aqui eu posso escrever até encher o saco ou sentir que o texto já está de bom tamanho]. Fim das observações.

Capital mundial da juventude e das baladas quase inacabáveis [eu que estou dizendo isso, não tenho referências, mas acho coerente], Ibiza é, de certa maneira, uma versão economicamente evoluída de Porto de Galinhas nas férias de dezembro/janeiro e feriadões. Pra falar a verdade, eu ia comparar com Tamandaré, mas não tem cabimento. Tamandaré não tem um ‘estabelecimento’ decente onde as pessoas vão. É casa de alguém, praia, graminha, cidade, blá blá blá [e não me falem do festival, pois festivais são… festivais, não estabelecimentos].  Resumindo, o que eu quero dizer é: lugar com praia que no verão ‘ferve’ de gente atrás de festa, sendo Ibiza trocentas vezes melhor e mais organizado.

No diário da viagem: 8 cansativas horas de ônibus de Valladolid para Valencia  para de lá pegar um barco, com direito a música [um DJ, não o famoso músico espanhol Alceu Valencia] e as pessoas praticando pela primeira vez [de muitas] a socialização via álcool. Eu também, digo logo. A festa estava legal, o povo estava animado, mas fazia um frio da porra. Acabei ficando dentro do navio mesmo boa parte da viagem. Chegamos de madrugada em Ibiza, cada um pro seu quarto e cama! Fim do diário de viagem.

Ibiza é um lugar bonito. Bonito pra cacete! Apesar de só ter ficado pela Platja D’en Bossa, o que eu vi por lá e pelo Google mostram como a praia é bonita. Infelizmente, não fui heroico o suficiente para acordar às 9h depois de ir dormir às 7 para fazer a viagem que meio que ia de ‘cabotagem’ pela ilha vendo as outras praias. Ou isso ou eu ia para a melhor festa de todas, e aí? hahahah. A cidade em si e onde a gente ficou são lugares medianos. Pra falar a verdade, são lugares praianos. Há hotéis, modestos e de luxo, as coisas são organizadas, mas tampouco é a apoteose de Dubai. Nem precisava ser, pra falar a verdade. Os lugares que têm que ser bons são, e ponto final. Nisso, me refiro aos hotéis de luxo, as boates [!!!] e as praias. O resto é detalhe.

No final das contas, no quesito beleza, quem ganha a nota 10 com unanimidade [PORTELA, 10!] é a ilha de Formentera. Alguns meses atrás, quando eu disse que ia para Ibiza, alguma amiga da minha mãe que não lembro bem quem era me mandou ir nessa ilha, disse que era muito bonita, que eu não devia perder, blábláblá. Eu não dei tanta bola, tampouco achava que teria oportunidade de ir lá. Quando soube pela organização que estava inclusa a viagem, eu não perdi a chance [mentira, eu quase que não ia porque na noite manhã anterior o motorista do ônibus atrasou em mais de 40 minutos, deixando a gente morrendo de frio às 6 da manhã sem ter nem o que fazer, então eu quase não fui, mas minhas amigas Rafa, Mal e Bela, que merecem menção honrosa por isso, me fizeram ir] eu sabia que tinha que ir. Putz, o lugar é fantástico. Eu, dois espanhóis, uma albanesa e uma eslovaca, alugamos um samba, uma espécia de buggy totalmente velho e bizarro, mas que no final foi bastante divertido. Os espanhóis foram dirigindo, enquanto a gente foi tirando foto e interagindo com o resto da ‘gangue’ [foram mais de 300 Erasmus invadindo a ilha].

La Manzana Verde

Pegamos a estrada e encontramos lugares realmente paradisíacos. A água de uma cor azul impressionante, coisa de ficar de boca aberta, e olha que eu não sou lá dos maiores apreciadores da beleza da natureza.. a gente parou em duas das praias que tinham por lá, entraram no mar, curtiram o sol [SUNPLUSSS] e tiraram um bocado de fotos, foi realmente bem legal.

Agora, chegando à análise sociocultural… o que esperar de um evento que reúne nada mais que 2000 estudantes universitários europeus na ilha mais agitada do mundo? No meu melhor recifense eu diria: bagaceira. E foi, e foi, mas num bom ótimo sentido. Todos, tirando os organizadores, eram intercambistas em alguma cidade da Espanha, o que já é uma coisa bem mais relaxada, e todos estavam a li para se divertir. Isso é muito bom porque tinha gente da mesma cidade que não se conhecia e que uma viagem de ônibus depois já era best friend! Eu mesmo fiz amizade com… recifenses [tá bom, além dos 4 recifenses, um paulista e um cearense]. É ironia do destino, mas eu estava com muitas saudades de poder falar o quase-dialeto da gente.

Era festa todo dia, praticamente toda hora. No dia da viagem para Formentera estavam todos de ressaca e morrendo de sono, afinal a maioria tinha dormido 2 ou 3 horas se muito, mas já tinha vários heróis segurando sua cerveja, enquanto eu bebia desesperadamente um litro e meio de água e devorava o croissant da salvação. Interessante foi o primeiro dia por lá, em que a programação era livre e as pessoas ficaram na praia e na piscina. Eu fiz o mesmo por certo tempo, mas não tive saco pra passar a tarde toda galetando ao sol, então decidi ir no mercado [caro pra cacete, por sinal] comprar algumas coisas pra fazer o almoço [esqueci de dizer: no quarto do hotel fiquei com 3 amigas recifenses por um problema da organização que me tirou do quarto onde eu supostamente deveria estar]. Quando estava quase tudo pronto, tirei a boa e velha Heineken da geladeira e fiquei na varanda por quase uma hora sentado ouvindo música e pensando na vida. Realmente, naquele momento eu acho que não queria mais nada.

A primeira noite foi a mais louca de todas com total e absoluta certeza. O cenário foi a Eden, nome tudo a ver com a boate que, além de uma área que era cheia de jatos de água, foi palco para um bizarro, interessante e engraçado concurso de striptease universitário. Um cidadão chegou a ficar nu só com um chapéu cobrindo o seu ‘palhaço’ e uma cidadã chegou a tirar o sutiã, fazendo o famigerado handbra. Disseram até que rolou striptease profissional, mas acho que foi na hora que eu saí da boate pra procurar comida. Ah sim, fato interessante: paguei 5 euros numa garrafa de água de 200 ou 250ml [isso mesmo, R$12,50], doeu. A maior surpresa da noite, entretanto, foi o fato de que estávamos um pouco molhados e que o filho de um harém do motorista do ônibus nos deixou mais de 40 minutos esperando no meio da rua. Todos se tremendo, afinal estávamos em Ibiza, quem iria levar casaco? Enfim.. deixa pra lá.

Segundo dia, viagem pra Formentera, tudo muito legal. Novas amizades através das viagens pela estrada e pela praia, tudo muito legal mesmo. De noite marchamos para a Privilege, maior boate do mundo com capacidade para 10 mil pessoas. Uma certa parte da boate estava fechada, obviamente, imagina a gente lotando 20% do espaço total, ia dar uma sensação de vazio digna de alguns shows mal produzidos de Recife. O tema era School Party e eu acho que foi a festa em que as pessoas estavam mais bonitas, as fotos provam, embora eu tenha me prometido não citar nomes nem mostrar fotos. Mais uma vez, rolou um striptease, e uma live performance de uma senhorita que eu não tenho a mínima ideia cantando junto às batidas do DJ, isso é bom pra variar, saber que tem alguém correndo pra um lado e pro outro, hehehe.

Alguns heróis foram no terceiro dia de manhã visitar as callas/praias de Ibiza, eu não. Acordei lá pra uma ou duas da tarde porque sabia que o dia seria longo, mas pouco tinha noção de que seria um dos melhores dias da minha vida. Fomos para um lugar chamado Gala Night, embora tenhamos ido à tarde, que de certa maneira me lembrava Aldeia. Era um lugar bem cheio de natureza que por uma hora teve a festa da espuma. Nosso ônibus chegou quando faltava menos de 10 minutos para acabar, tsc tsc. O espaço era enorme, tinha duas super piscinas, uma em que era permitido entrar, outra que não, DJs, churrasco [à espanhola , nunca vai se comparar com um churrasco brasileiro] e todo mundo espalhado por lá. Uma certa pessoa conseguiu jogar a boia de salva-vidas na piscina e ser expulso de lá, mas na maior cara de pau voltou e ainda furtou uma camisa de uma campanha de ‘responsible party’ que estava rolando por lá, entregando bafômetros e tal. Isso rendeu minha tarde de tanto que eu ri.

De noite fomos para a Es Paradis, ah, a Es Paradis… confesso que depois da Gala Night tomei uns 2 shots de tequila na tentativa de me manter o pique, mas quando cheguei lá eu tava meio desanimado. Por sorte, um dos organizadores saiu gritando pra galera que tava sentada num lugar lá da boate para que todos se animassem e não ficassem mazelando. Foi esse empurrão que eu precisava para entrar na vibe da festa e depois disso eu não parei. A música era incrível, o lugar também e quando deu 4 da manhã começou de verdade a Water Party, da qual eles são famosos. A área central lá começou a se encher de água, que estava gelada pra cacete, mas depois de um certo tempo deu pra ir se acostumando [mentira]. A concentração de gente tava tão grande que tinham ‘ondas’, de minuto em minuto vinha uma enxurrada de gente em sua direção, derrubando a galera e possibilitando mãos-bobas a granel. Eu peguei 2 copos de plástico [plástico do bom, não de festinha] e ficava enchendo de água e tacando na cabeça do povo, foi divertido, heheheh. A galera, no embalo alcóolico da festa não largou os estudos:  devo dizer que vi por lá até gente praticando conceitos de ginecologia tátil avançada…  O que eu quero dizer sobre essa noite, no final das contas é até difícil descrever de maneira que fique legal e empolgante, então de certa maneira esse vídeo aqui ajuda a explicar. Foi uma das noites mais divertidas da minha vida, a música tava perfeita, as pessoas estavam empolgadas [algumas até demais] e eu saí de lá com um sorriso no rosto difícil de tirar a cada vez que falo da Water Party da Es Paradis, e como me arrependo de não ter comprado uma camisa de lá! Observação importante: provavelmente foi essa festa que causou a gripe de pelo menos metade da ‘federação’ de Valladolid, e também das outras cidades.

Ah, Es Paradis...

No último dia a festa era na nossa Platja D’en Bossa, ou seja, não precisávamos de ônibus e cada um podia ir na hora que quisesse. De tarde o combinado era ir para um lugar da praia reunir todos os que estivessem por lá e fazer um grande botellón [gente reunida bebendo fora de um bar], e fizemos. Eu levei um copo de um litro do Burger King que continha a lendária ‘poção mágica’: 7 doses de tequila, 5 de licor de laranja, 3 de licor de maçã e 5 limões. O problema foi que eu a repeti, o que gerou uma certa amnésia e me fez acordar na minha cama [bêbado tem GPS]. Descobri até que passei meia hora conversando com uma amiga minha sem ela ter noção de que eu estava no piloto automático.. rendeu vários risos depois. Para minha sorte, acordei bem na hora de me arrumar para ir para a festa de despedida. Me fizeram um sanduba da salvação e fomos para a Space, que eu pensava que seria a melhor boate no quesito música. Acontece que o DJ era o mesmo da primeira festa, então não mudou lá muita coisa no repertório. Ah sim: era a Masquerade Party. Minha máscara era a mais barata e bizarra que tinha por lá. Comprei junto a um kit zorro para crianças, que vinha com duas máscaras de plástico e duas espadas de plástico extremamente bizarras. O elástico, obviamente, não aguentou minha cabeça, mas aí fui engenhoso: peguei um headphone seboso que a Renfe me deu na viagem de trem Madrid-Valladolid e cortei, fazendo com que o fio ficasse do tamanho certo. Voltando à festa: com certeza eu não estava com o pique de fazer um super festão. Já tinham sido 3 dias seguidos de chegar no hotel às 7, dormir e já sair correndo, soma-se isso à ressaca e o resultado é um Ugo cansado. Ainda me diverti bastante com os recifenses e voltei perto das 4 da manhã, sabendo que tinha que acordar às 9 para arrumar o quarto [hotel preguiçoso, você tem que deixar as coisas organizadas ou eles não devolvem a fiança!!].

Fizemos a arrumação mais bizarra do planeta, estávamos todos cansados e começando a gripar. Conseguimos nossa fiança e pegamos o ônibus para pegar o navio para pegar o ônibus para pegar o táxi para chegar em casa! Pequena troca de meios de transporte, hein? Essa viagenzinha foi de meio dia até 3 da manhã, momento em que gloriosamente cheguei aqui, feliz por ter voltado vivo, estressado por estar gripado e cansado.

Isso foi Ibiza… eu acho.

Ugo.

Fujiya & Miyagi – Lightbulbs [vanilla, strawberry, knickerbockers glory]

Valladolid .6

Integration Weekend, te quero de novo. Acabei de passar um dos melhores fins de semana da minha vida, mesmo com quase nenhum luxo e com uma gripe do além. O fim de semana começou com uma ‘viagem’ [30 minutos de ônibus para mim é menos que ir para a faculdade em Recife..] para Duenas, um pueblito onde fica o albergue onde nos hospedamos. Do meu lado no ônibus, Monika, uma lituana que eu não conhecia e que mostrou ser interessada em artes, cinema e gostava de ouvir singing poetry, alternativo demais para mim. Gente fina ela, o país da coitada tem 3,3 milhões de habitantes, enquanto a Região Metropolitana do Recife tem quase 3,7 milhões, apesar de obviamente a densidade demográfica ser mínima. O translado passou num instante, até porque não tinha como não, o lugar é muito perto. Quando chegamos, ajudamos o povo da organização a descarregar as coisas e fomos escolher nossos quartos. No melhor estilo albergue, cada quarto devia ter uns 10 beliches, coisa que normalmente eu não gostaria, mas foi legal para o povo ficar conversando e se enturmar mais.

Arrumação feita, voltamos para o salão principal, onde aconteceram as festas, o karaokê e outras brincadeiras, e fizemos uma dinâmica para conhecer as pessoas que estavam lá, já que eram 70 e provavelmente cada um conhecia a 10 no máximo. Para isso, fomos divididos em seis grupos, ficando eu no grupo 1. Aconteceram algumas brincadeiras para que conhecessemos uns aos outros e decorássemos os nomes uns dos outros. No meu grupo, José Luis era o coordenador, tinha um americano chamado Abraham, uma francesa chamada Annelore, uma outra chamada Federica, uma eslovaca chamada Katarina, um italiano chamado Nico, uma inglesa chamada Helen, um português chamado Luís, outra inglesa chamada Frankie e uma […] chamada Daniela, que não lembro direito de onde ela é, mas creio que seja da Polônia.

Depois da integração, as pessoas foram se arrumar e conversar um pouco. Eu fiquei com José Luis e Eduardo [dois que fazem parte da organização da ESN – Valladolid, não são uma dupla sertaneja] e fomos arrumar o som da festa. Som muito massa, com tudo que era necessário para fazer uma festa massa. Obviamente que ia faltar algum cabo para complicar a história, mas eu tinha minha bolsa mágica de adaptadores. Quando chegamos na sala de jantar, fomos os últimos, Juan pediu uma salva de palmas para o ‘auxiliar técnico e dj’ Ugo, que ficou um tanto quanto envergonhado, mas bola pra frente, hora de jantar. Para falar a verdade, não lembro o que jantei. Acho que era macarrão carbonara e depois serviram almôndegas. Ou isso foi o almoço do outro dia? Who cares.. Pois bem. Eu tava um pouco doente essa hora, mas depois de comer melhorei um pouco [vale ressaltar que tomei uma neosaldina também].

Quando fui me arrumar para a ‘Pijama Party’, tinha um bocado de gente conversando no quarto e depois a maioria sumiu. Acabei de me arrumar e fui procurar onde tava o povo. A sala de jantar tinha virado um cassino, quase, a única diferença era que não se jogava por moedas, se jogava por bebidas [shots]. Tinha uma roleta de shots e várias brincadeiras diferentes por lá. Esse esquenta demorou uma hora e meia mais ou menos, tempo que passou rapidamente por causa de tanta diversão. Eu ‘dei a sorte’ de cair um shot de Absinto [do forte] para mim. Não sei se foi o shot ou alguma outra coisa, mas desde então o mundo ficou mais alegre, sorridente e a minha dor de cabeça/garganta tinha dado trégua. A festa foi massa, toquei de 1 da manhã até umas 5 e meia, 6 horas. Reconheço que estava um tanto quanto embriagado, o que me fez tocar algumas coisas inusitadas, a exemplo de Ivete Sangalo e Alejandro Sanz cantando Corazón Partío, mas dane-se, acho que a galera gostou. Depois disso, obviamente, cama. Energia era zero.

Acordei no outro dia com fome, sede, dor de cabeça, congestionamento nasal e o diabo a 4. Quem disse que eu me importava? Sofri feito um condenado até sair à quadra e jogar um pouco de basquete com a galera [isso mesmo, quase morrendo fui jogar basquete. Pode chamar de secura ou heroísmo, depende do ponto de vista]. No começo a gente ficou só arremessando a bola sem compromisso, mas quando chegou mais gente decidimos fazer uma partida. Como eram 2 homens e 2 meninas contra um time de igual composição, não imaginei que teria algum problema eu jogar de óculos. Claro que tinha, né? Mutley tá aí pra isso. Na tentativa de fazer uma cesta entrei em contato com Kris, um belga de uns 1,90m e o cotovelo dele, eu creio, bateu nos meus óculos, que entortaram um bocadinho. Azar do cão, fui tirar os óculos e ficar de lente.

Deu a hora do almoço e nos reunimos na mesma sala onde jantamos e fizemos a jogatina na noite anterior. Almoçamos alguma coisa, aí sim creio que foi carbonara + almôndegas, e logo depois nos chamaram para uma sessão de chill out / massagem na sala de televisão. Foram umas 25 pessoas dessa vez. Acho que ninguém lá sabia que eu era razoavelmente bom fazendo massagem, mas acabei me juntando a Federica, a francesa do meu grupo. Quando acabei o ‘serviço’, ela disse que foi a melhor massagem da vida dela [pontos pra mim!] e depois retribuiu a massagem. Depois disso, começou uma música de relaxamento e ficamos lá dando um cochilo até umas 4 ou 5 da tarde. Quando me levantei de lá, fui jogar basquete de novo [a secura tava grande!], dessa vez de lentes. Durante isso, também fizeram um karaokê no salão de festas, onde a galera cantou música do mundo todo. O povo ficou conversando um tempinho até dar a hora do jantar. Comemos e fomos nos arrumar para a seguinte festa, a festa do branco, onde todos, obviamente, estavam vestidos com algo branco [a tirar por algumas pessoas sem muita noção]. Dessa vez, depois do jantar eu estava mal de novo. Decidi tirar um cochilo de meia hora, que inteligentemente ampliei para ser um cochilo de quase uma hora. Depois, o esquema foi o mesmo, se arruma, esquenta-cassino e depois festa. A diferença dessa vez foi que eu no meio da noite passei o comando para Pajares, outro coordenador da ESN, e fui aproveitar a festa merecidamente.

No outro dia, menos ressaca [estava mais doente, bebi bem menos] e o mesmo inferno nasal que me acomete até hoje [e que tudo indica que amanhã estará dando tréguas]. Tomei café da manhã, conversei um pouco e fui jogar mais basquete. Almoço, massagem/chill out no mesmo esquema. Fiz massagem em Marta e Sara, duas espanholas, e em ser estranho. Quem é ‘ser estranho’? Não sei. Eu falei primeiro com ela na primeira festa, mas não lembro seu nome de lá. Tampouco lembro de onde ela é. A única coisa que sei é que ela não fala quase nada de espanhol. O pior é que ninguém sabe direito quem é ela ou o nome dela. Não sei nem quem são os amigos dela porque ela não tinha um grupinho fixo. Resumindo, ser estranho. Como eu nunca nego massagem, ela fez em mim e eu retribui. Durante isso, ri demais com uma grega louca que estava lá. Ela é meio transtornada da cabeça. Fez uma massagem em Eduardo [o mesmo que me ajudou a ajeitar o som] em que dava uns tapas muito barulhentos e fazia a galera rir horrorres. Depois que as coisas se aquietaram, mais cochilo. Quado acabou o chill-out, já era hora de arrumar as coisas para ir. Não sem antes jogar uma partida de basquete contra Andrés, um amigo do México. Ele ganhou por 7-5, mas o jogo foi divertido. Depois disso, ônibus para Valladolid, onde voltei mais uma vez conversando com Monika. Chegando na Plaza de la Universidad, me despedi da galera e fui para o antro da salvação: o Jardim de Istambul. Kebab de jantar [a vontade de cozinhar ou preparar algo definitivamente não existia em mim] e me fui para casa. Guardei as coisas [estou com um bocado de roupas sujas que venho lavando desde ontem] e fui dormir.

Assim acabou um dos melhores fins de semana da minha vida.

Ugo.

Franz Ferdinand – Tonight

 

Recife é um ovo [ou como saber se seus amigos têm bom gosto]

Ontem fui pro UK Pub, um dos lugares que eu mais frequento aqui em Recife. Primeiro, fui a negócios: Salvador, DJ residente de lá, estava interessado no meu CDJ que venho tentando vender desde que decidir fazer a viagem para a Espanha. Negócios resolvidos [ele vai comprar, ueba!], fui curtir o melhor dia da programação de lá, a terça-feira autoral. Até aí tudo normal. Por sinal eu acho que esse texto não vai ter nada muito de anormal, é mais uma constatação do óbvio.

O engraçado das terças lá no UK é que você pode ir sozinho e tem certeza de que vai encontrar pelo menos um bocado de gente conhecida, isso é fato. O que me chamou atenção de ontem foram as pessoas que eu achei por lá! Gente inesperada mesmo.

Descobri há menos de 24h que uma amiga minha de infância, Marcelinha, está morando em Valladolid [por sinal, aonde eu devo ir morar por 1 ano] e fui encher o saco da coitada perguntando tudo o que eu tinha de dúvidas sobre a cidade, afinal eu sei muito pouco e ela é a única que eu conheço que mora por lá. Depois da conversa, fui para o benquisto UK Pub. Não é que lá, ao subir ao fumódromo [não gosto de fumaça, mas é o lugar que boa parte dos meus amigos ficam e dá pra conversar bem melhor lá], não é que eu encontro Roberta, a irmã de Marcelinha! Não a via, creio eu, há 8 anos, desde que eu saí de Aldeia para vir morar aqui em Setúbal. E, por sinal, foi ela que convenceu a irmã a ir estudar em Valladolid, pois também estudou lá e gostou muito.

Além de encontrar ela e outra amiga minha lá de Aldeia da mesma época, eis que acontece o mais inesperado de tudo: também estava lá Léo, que namorou minha mãe quando eu tinha 6 anos [nem lembrava disso, nem dele] e aí rolou aquela conversinha do ‘quanto tempo, nem te reconhei, blá blá blá’.

É incrível isso, as pessoas aqui se dividem em tribos que vão quase sempre pros mesmos lugares, com algumas exceções [exemplo: eu], que são as pessoas que são mais ‘wherever I may roam, where I lay my glass is home‘. E tem tribos diferentes que vão par ao  mesmo lugar, mas em dias diferentes. Usando o UK como exemplo, terça é o dia dos alternas, quarta só funciona nas férias, quinta é o dia dos baladeiros que não pensam muito na ressaca da sexta-feira, sexta e sábado são os dias das patricinhas e mauricinhos da cidade que não se importam em gastar centenas de reais em uma noite só e o domingo é o dia do samba, que reúne gente descolada e a mesma galera do sábado e domingo que tem que fechar a semana com chave de ouro, né? Isso varia de casa em casa, embora poucas consigam fugir do comum [é um porre ficar ouvindo sempre as mesmas músicas todo dia].

Isso falo só da vida noturna, e de uma parte dela. Se for falar quantas pessoas você encontra no Shopping Recife se for lá num sábado…

Ugo.

Devo – Something For Everyody

Liberdade, censura, hipocrisia.

Sempre defendi a liberdade, e, consequentemente, a liberdade de expressão. Voltaire disse, e todo mundo sabe, “posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las”. Agora, quando um usuário de um fórum vem declarar morte aos comunistas [e eu nem sou um, nem socialista, nem nada], me dá uma vontade de ir na casa do cara bater nele e deletar o tópico. Isso não é certo perante a liberdade de expressão, mas me parece o certo… e agora?

Ugo.

Zeca Baleiro – O Coração do Homem Bomba