Recomeçar

Amanheceu para Zeca quando seu alarme disparava às 6 horas da manhã para dar os remédios de Jorge. Seu irmão estava doente há um par de dias e o médico não tinha ideia do que se passava. Receitava medicações para tentar reduzir a febre e as alucinações, mas para Zeca não parecia que estavam funcionando corretamente. Quando abriu a porta do quarto de Jorge, viu que seu irmão havia escrevido nas paredes com o kit de hidrocores de Marina, a irmã mais jovem do trio.  Leu o texto que tinha sido finalizado em tor vermelho, apesar do seu começo ter sido em azul:

É hora de recomeçar e essa palavra vem sempre acompanhada de suas duas irmãs: repensar e replanejar. É o momento de ver tudo que está dando certo e ver tudo que está dando errado.  Manter o que é bom, descartar o que é ruim. Vamos dar adeus a quem nunca deu uma felicidade, uma oportunidade ou nunca ajudou numa necessidade. Não vale a pena querer quem não me quer nem amar quem não me ama. Estou mirando ao futuro, planejando a minha sorte e sorteando os meus planos, pois não é fácil definir o que ainda está por vir. Mas uma coisa é certa: não há nada que não possa ser melhorado, principalmente aquilo que já está deteriorado.

Querendo, posso investir em tempos vindouros, felizes. Querendo, posso abandonar o que não deu certo, jogar fora o incerto e a cada passo chegar mais perto do meu objetivo. Chegou a hora, não vejo mais motivo para repetir os mesmos erros. Como um visionário, só posso admitir o melhor para mim, nada menos. Até nunca, erros que cansei de praticar. Seja bem vindo, Futuro!

Zeca achou o texto curioso, apesar de levar sempre em consideração o estado psicológico do seu enfermo irmão, mas para ele tudo poderia sinalizar uma recuperação e um recomeço em suas vidas.

Ugo.

El Mocambo – El Mocambo [legal esse cd, mas ao vivo a El Mocambo bota mais quente]

O tempo e a distância

Numa amizade ‘ativa’, a frequência [prefiro com trema] com a qual as pessoas mantém contato pode ser considerada um termômetro do relacionamento. Todo dia falamos com uns preferiti e de vez em quando conversamos com os que não fazem parte desse seleto grupo. Esses favoritos são aqueles que, caso você passe mais de um dia sem falar com eles vai haver um certo estranhamento por parte dos dois. Por mais ‘séria’ que a palavra rotina pareça, ela se aplica aqui. Cria-se esse hábito e com ele uma certa necessidade de gastar uns minutos da vida hablando com os melhores amigos, enquanto tanto faz conversar com os restantes como ignorá-los.

Quando começamos a nos distanciar das pessoas, seja porque agora elas estão ocupadas, seja porque estão passando por situações difíceis ou simplesmente por estarem enchendo o saco de você [lógico que pode ocorrer o inverso em qualquer uma das 3 situações], certamente iremos buscar satisfações porque ninguém gosta de enfraquecer um relacionamento positivo [seja feita a exceção para House]. Depois dessa fase de estranhamento e busca por perguntas, chega um momento em que o novo ‘hábito’ é acostumar-se com essa distanciação. Pararemos de questionar e tentamos dançar conforme o novo ritmo, uma coisa que nem sempre é muito fácil [entenda-se que quanto mais você gostar dessa pessoa, mais difícil fica].

[pausa pra almoçar, pra retomar o raciocínio es fueda]

Com esse comodismo, o relacionamento geralmente se estabiliza num nível bem abaixo do que já foi um dia. Porém, se um dia a pessoa que já orbitou por perto e acabou indo exorbitar lá na casa de chapéu decide voltar a circular pelo sistema ao qual já pertenceu uma vez, ela vai perceber que as coisas não são iguais e que o tempo e a distância [arrá, cheguei no objetivo do post] deterioraram o que já foi um relacionamento forte algum dia. No sistema solar, acho que quando um planeta começa a fazer parte dele há um certo estranhamento por parte dos planetas mais antigos [METAFORICAMENTE] e é assim que acaba acontecendo com esses que depois de certo tempo querem retomar a amizade: voltam ao status de ‘ser estranho’.

É muito possível que nessa tentativa de retomada de relacionamento ‘a vibe não flua’ [como diria Joh] e as coisas nunca voltem a ser o que já foram um dia. Assim como tudo pode voltar ao normal, não é raro isso acontecer, vale ressaltar. Tem também aquelas pessoas especiais que tanto faz ficarem 3 meses ou 10 anos longe [não é ‘tanto faz’ porque ninguém vai querer essa distanciação de alguma pessoa querida] e tudo volte ao normal em pouquíssimo tempo.

Então, basicamente é isso: se você começa a se distanciar de uma pessoa vai ter [possivelmente] bastante dificuldade de reaproximar-se [justamente como sistemas solares, eu acho].

Ugo.

Nuda – Menos Cor, Mais Quem [bom demais esse cd, visitem: www.myspace.com/sitionuda]

Amongst Hundreds

Zeca já estava cochilando na poltrona. Sonhava que estava no mundo descrito em seu livro, vivia a vida do personagem principal. Era um sonho sombrio, onde ele estava em um lugar ao qual não conhecia, até que apareceu um louco falando em uma linguagem que ele só entendia bem por tanto haver estudado em sua infância:

Trying to fly
To do things by myself
Going alone tonight
I don’t have anybody else
It may not seem cool
But I want to watch ‘n learn
See what they do
See what they yearn
It’s dark
The music is good
People having fun
They’re in the mood
Alone amongst hundreds
In a place I don’t belong
Alone amongst hundreds
Incapable of singing their song
After all this
I’m reaching a conclusion
They’re in a bliss
And I’m in a illusion
Alone amongst hundreds
In a place I don’t belong
Alone amongst hundreds
Incapable of singing their song

Trying to fly
To do things by myself
Going alone tonight
I don’t have anybody else

It may not seem cool
But I want to watch ‘n learn
See what they do
See what they yearn

It’s dark
The music is good
People having fun
They’re in the mood

Alone amongst hundreds
In a place I don’t belong
Alone amongst hundreds
Incapable of singing their song

After all this
I’m reaching a conclusion
They’re in a bliss
And I’m in a illusion

Alone amongst hundreds
In a place I don’t belong
Alone amongst hundreds
Incapable of singing their song

Zeca assustou-se e logo acordou de seu sonho, mais uma vez Jorge gritava de seu quarto.

Ugo.

V.A. – Help!: A Day In Life [destaque pra Kaiser Chiefs tocando I Heard It Through the Grapevine]

Ser rico

[Esse post retoma o ‘estilo’ antigo do blog. Não que as histórias de Zeca e Jorge tenham acabado, jajá eles aparecem..]

Todo mundo quer ser rico. Não conheço um que não queira. Por mais socialista que seja, por mais zen, desligado de interesses materiais e blábláblá, sempre vai ter alguna cosita que para ser obtida o pré requisito [com hífen ou sem hífen?] será ter dinheiro.

A gente vive num mundo capitalista. Não é um país capitalista nem um bocado de países capitalista. É o mundo inteiro. Os mais ricos sempre querem mais dinheiro, enquanto os mais pobres tentam ter algum dinheiro. É assim que vivemos desde os primórdios, quando a galera caçava jacaré na lagoa e colhia frutos no melhor estilo Age of Empires. Os que tinham mais recursos, mais grana [lógico que no começo o poder econômico se media com coisas legais que hoje não valem nada, feito sal], etc. mandavam. Quien puede, puede. Quien no puede, se sacuede*.

Nessa busca infindável por dinheiro, eu consigo ver o mundo dividido em dois espécimes: o ser rico e o ser pobre. Essa divisão, por mais estranha que venha a ser, não é em relação a quanto cada um tempo no banco/bolso/porquinho. É simplesmente em relação à mentalidade da pessoa [e isso parece ser genético].

O ser rico geralmente tem dinheiro e, se não tiver, ele tem grandes chances de ter. Isso é devido ao simples fato de que ele sabe o que fazer com o dinheiro, ao invés de gastar alucinadamente com um monte de quinquilharia. Ele entendeu que vale mais a pena ir atrás de preços melhores, barganhar, etc. Claro que, ao ter dinheiro, ele vai gastar com coisas boas. Afinal, não sei se alguém ainda não sabe, mas… quando a marca é reconhecida como de alta qualidade, as chances de quebrar e dar aperreio [por mais bizarra que a expressão dar aperreio seja] são bem menores. Nenhum ser rico quer ter que ficar correndo atrás de assistência técnica pra consertar o ventilador made in China que ele comprou por 30 reais. O mais importante num ser rico é que ele sabe dar valor às coisas. Ele toma cuidado com o que tem, não deixa quebrar nem dá vacilo para roubarem. E é por isso que acabam conseguindo juntar dinheiro.

O ser pobre, por outro lado, vive o oposto. O dinheiro que ele sai tão rápido quanto entra. [Lógico que, com as definições desse post, eu não vou apresentar a solução da pobreza mundial nem vou explicar por que diabos o mundo é injusto. Esse post é só uma divagação que acaba sendo mais aplicável à classe média/alta do nosso país, uma vez que a classe baixa esforça-se a cada dia para conseguir sobreviver, já que não são dadas condições de ter uma vida digna a eles.] Então, o ser pobre classe média/alta simplesmente nã osabe acumular riquezas. Se um dia na vida ele ganhar grandes quantias de dinheiro, ele vai se achar demais e vai acabar gastando tudo. Isso é muito simples: a pessoa vive a vida toda numa desgraceira, tentando melhorar as condições financeiras e, quando consegue, ele tem que ficar pedindo desconto, indo atrás de mil lojas, etc? A pessoa sente que ganhou essa batalha contra a falta de dinheiro e agora quer sossego.

O problema é que esse sossego tão desejado transforma-se em comodismo. Se uma pessoa não se esforça para achar soluções para gastar menos, é lógico que cada vez mais vai sobrar menos dinheiro, não tem pra onde correr. Outro vilão do ser pobre é o banco. Bancos adoram aqueles caras que já têm uma renda relativamente boa e que ainda querem mais. Esses acabam virando clientes vip do cheque especial, do cartão de crédito e daqueles parcelamentos em até 36 meses, e aí os juros comem no centro. A solução é simples, embora sejam poucos os que queiram adotá-la: segurar as rédeas até pagar tudo o que deve ao banco. Depois disso, só resta aprender a gastar menos com besteira e estabilizar a conta no azul pro resto da vida. Além disso, o que um ser pobre precisa é de simancol em doses altas. Uma vez que ele aprender a dar valor ao que tem e não achar que vive na babilônia só gastando, gastando e gastando, mais possivelmente ele se tornará um ser rico.

A diferença entre os dois é bastante simples. Esse post não é lá dos mais originais [é uma mistura do Capitão Óbvio com um livro que o professor de economia mandou ler chamado ‘O Milionário Mora ao Lado’, sei-lá-de-quem], nem é dos mais legais nem nada. Mas eu tava a fim de escrever, e ponto final.

Agora, só me resta ir comprar um caminhão de Simancol pra mim, quem sabe a situação não melhora…

Ugo.

The Beatles – Abbey Road [clááássico! Mean Mr. Mustard/Polythene Pam/She Came In Through the Bathroom Window/Golden Slumbers/Carry That Weight uhul!]

Free

Quando viu Jorge voltando ao quarto, Zeca tranquilizou-se. Mais um delírio havia passado. Voltou ao que mais lhe importava no momento: ler seu livro. Porém, não teve sorte e, como que não estivesse a fim de dar trégua, Jorge voltou. Tinha uma pose comportada, apesar da loucura ser visível em seus olhos. Com uma pose que mais lembrava um filósofo grego dos tempos mais antigos, começou a discursar:

I wanna be free. And I will. Serei livre porque eu sei que quem quer, consegue. O impossível é uma barreira criada na mente e que deve ser desconsiderada. Nunca acharei que tudo é fácil, mas as ferramentas para tornar tudo possível estão aí. Precisamos apenas de vontade, dedicação e esforço, mais nada. O que existir além disso pode ajudar ou atrapalhar, mas nunca será essencial.

Ir contra a natureza, logicamente, não dará certo. Não posso querer voar porque não nasci para isso. Porém, sei que se um dia quiser sair do chão, posso encontrar minhas maneiras. De um simples pulo a estar em gravidade zero, mas sei que um dia irei descer de volta. Não posso ser imortal porque ninguém é. Posso, entretanto, prolongar minha vida até onde der, sabendo sempre que morrerei algum dia.

Minha liberdade não está mais longe do que já esteve um dia. A evolução da vida e do pensamento nos leva a ela. Seja a liberdade espiritual, onde cada vez mais procuramos a verdade e esqueçamos os mitos. Seja a liberdade política, a partir do momento em que derrubamos tiranos e livramos nosso povo de ditaduras. Seja a liberdade individual, aquela que um dia terei. Talvez até já a tenha, mas não total. Posso ir aonde quiser, certo? Mas não quero só isso. Quero o mundo, as estrelas e o universo. Isso ainda não tenho, todavia posso ter, por que não? Posso viajar ao infinito, experienciar o que ninguém nunca nem pensou que existisse. Posso transcender.

Cada passo que dou é rumo à minha liberdade, porque é ela que eu quero e é ela que eu conseguirei. E nessa caminhada, creio não precisar de muita coisa. Música, amigos e um amor já saciam minhas necessidades. Não sei para que, nem por que, iria querer mais.”

Jorge acenou despedindo-se de Zeca e voltou ao seu quarto. A febre parecia não baixar nunca.

Ugo.

Supertramp – Breakfast in America [ não ouço Supertramp, mas tava tocando esse cd aqui. Gostei.]