Recife é um ovo [ou como saber se seus amigos têm bom gosto]

Ontem fui pro UK Pub, um dos lugares que eu mais frequento aqui em Recife. Primeiro, fui a negócios: Salvador, DJ residente de lá, estava interessado no meu CDJ que venho tentando vender desde que decidir fazer a viagem para a Espanha. Negócios resolvidos [ele vai comprar, ueba!], fui curtir o melhor dia da programação de lá, a terça-feira autoral. Até aí tudo normal. Por sinal eu acho que esse texto não vai ter nada muito de anormal, é mais uma constatação do óbvio.

O engraçado das terças lá no UK é que você pode ir sozinho e tem certeza de que vai encontrar pelo menos um bocado de gente conhecida, isso é fato. O que me chamou atenção de ontem foram as pessoas que eu achei por lá! Gente inesperada mesmo.

Descobri há menos de 24h que uma amiga minha de infância, Marcelinha, está morando em Valladolid [por sinal, aonde eu devo ir morar por 1 ano] e fui encher o saco da coitada perguntando tudo o que eu tinha de dúvidas sobre a cidade, afinal eu sei muito pouco e ela é a única que eu conheço que mora por lá. Depois da conversa, fui para o benquisto UK Pub. Não é que lá, ao subir ao fumódromo [não gosto de fumaça, mas é o lugar que boa parte dos meus amigos ficam e dá pra conversar bem melhor lá], não é que eu encontro Roberta, a irmã de Marcelinha! Não a via, creio eu, há 8 anos, desde que eu saí de Aldeia para vir morar aqui em Setúbal. E, por sinal, foi ela que convenceu a irmã a ir estudar em Valladolid, pois também estudou lá e gostou muito.

Além de encontrar ela e outra amiga minha lá de Aldeia da mesma época, eis que acontece o mais inesperado de tudo: também estava lá Léo, que namorou minha mãe quando eu tinha 6 anos [nem lembrava disso, nem dele] e aí rolou aquela conversinha do ‘quanto tempo, nem te reconhei, blá blá blá’.

É incrível isso, as pessoas aqui se dividem em tribos que vão quase sempre pros mesmos lugares, com algumas exceções [exemplo: eu], que são as pessoas que são mais ‘wherever I may roam, where I lay my glass is home‘. E tem tribos diferentes que vão par ao  mesmo lugar, mas em dias diferentes. Usando o UK como exemplo, terça é o dia dos alternas, quarta só funciona nas férias, quinta é o dia dos baladeiros que não pensam muito na ressaca da sexta-feira, sexta e sábado são os dias das patricinhas e mauricinhos da cidade que não se importam em gastar centenas de reais em uma noite só e o domingo é o dia do samba, que reúne gente descolada e a mesma galera do sábado e domingo que tem que fechar a semana com chave de ouro, né? Isso varia de casa em casa, embora poucas consigam fugir do comum [é um porre ficar ouvindo sempre as mesmas músicas todo dia].

Isso falo só da vida noturna, e de uma parte dela. Se for falar quantas pessoas você encontra no Shopping Recife se for lá num sábado…

Ugo.

Devo – Something For Everyody

Recife, cidade noctívaga

Ontem eu tava naquele Bompreço da pracinha de Boa Viagem indo comprar os comes e bebes com a galera e já era relativamente tarde, afinal eram 23h15 de uma segunda-feira, mas nada fora do normal para nós, que estamos de férias e a vida tá boa assim mesmo, podem invejar, eu deixo ;).

O que me impressionou, e por isso tou aqui, é que tinha MUITA gente fazendo compras lá. Algumas famílias fazendo a compra do mês às 23h15 de uma segunda-feira! Tá bom que 20% daquele povo devia ter estado trabalhando até tarde, mas por que diabos fazer compras tão tarde? E pior, se fosse por causa da fila menor seria até uma desculpa legal, mas não, as filas estavam enormes!

Ah sim: finalmente estavam executando obras no devido horário! Chegaram à conclusão de que reformar o asfalto às 2 da tarde não era uma ideia tão legal assim, demorou né? Acho que agora vai.

E Recife realmente é uma cidade noctívaga. Na Espanha os bares fecham às 3h da manhã de maneira sincronizada e pontual. A maioria dos bares aqui fecha quando o último cliente sair, true story. Já consegui a proeza de sair do Empório Sertanejo às 5h30 da manhã de uma quarta-feira, isso sem ser de perto o último cliente de lá, pois ainda tinham algumas mesas.

Acho que eu deveria aproveitar mais isso, até porque nada melhor que uma mesa de bar. Principalmente se tiver um som bem escolhido [e não muito alto], cerveja gelada e os melhores amigos. Pena que sempre a gente acabe sacrificando alguma dessas coisas. É difícil achar um bar bom com som bom e preços razoáveis. É fácil achar um bar com cerveja boa, preços mais ou menos em conta e música HORRÍVEL. Nada mais chato que ouvir um dvd de Asa de Águia a contra-gosto [e o som ainda estava tão ruim que não dava para ouvir nada com definição, só a batida feiosa de uma bateria, também feiosa, de axé.].

Ainda tem mais coisa pra falar, mas tou com preguiça.

Ugo.

Arctic Monkeys – Humbug

Tom

Prólogo parte 1
Era mais uma noite chuvosa para ele. Noites chuvosas significavam a paz de seu lar e alguma coisa para o relaxar. Geralmente, música alta e alguma cerveja. Porém, essa noite não era igual às muitas outras. Sentia-se impotente, incapaz de superar seus próprios sentimentos e ter forças para seguir a vida. O ritmo da música estava mais lento, o clima, mais denso. Fez uso de um copo baixo e nele derramou absinto. Transformou a fada verde numa espécie de uísque e a apreciou. 

A dor era grande, a perda também. Ele precisava de uma anestesia para tanto sofrimento e, com certeza, a solidão não ajudava. Por mais que já fosse acostumado a viver só, a ter sua casa organizadamente desorganizada, ele precisava de alguém por perto para tomar conta.

Manteve o mesmo ritmo a noite toda: bebia um copo de absinto a cada disco que ouvia. Estava sentado em uma poltrona virada intencionalmente para a janela. Observou os pingos batendo na janela enquanto lia as mensagens que trocaram pela internet e pelo celular. Depois de várias doses amargas de realidade, cedeu para o cansaço mental propiciado pelo absinto. Dormiu.

Prólogo parte 2
Seu trabalho era predominantemente solitário. Fazia quase tudo que necessitava em casa, no seu até então confortável lar. Investiu quae tudo que ganhava neste apartamento, pois era ao mesmo tempo o lugar onde dormia e onde trabalhava, poucas coisas importavam mais.

Mantinha uma restrita lista de amigos com os quais compartilhava seus principais interesses: música, bebidas, comidas e pessoas. Um de seus maiores interesses, quase que paradoxal ao fato de gastar boa parte do tempo sozinho, era observar as pessoas. O fazia das mais diversas maneiras, desde o momento em que fazia compras no supermercado a dois quarteirões de seu apartamento, a ver como as pessoas se relacionavam no que era o maior bicho de sete cabeças da época: a internet e suas redes sociais.

Por mais natural que fosse a evolução das maneiras de se relacionar em grupos, que foi alavancada pelo forte desenvolvimento das telecomunicações, era comum ver vários indivíduos protestando sobre privacidade, exposição indesejada e outras coisas que ele julgava não ter muito nexo. O pensamento era simples: você exibe o que quer. Na internet, ninguém estava obrigando as pessoas a dizerem coisas que eram para ser segredos. Você era responsável por todas suas ações, não tinha o que discutir.

Ele tinha tornado seu dia a dia bastante imprevisível. Trabalhava onde quisesse e na hora que lhe fosse mais conveniente. Isso sem nunca atrasar nem desapontar nenhum cliente. Seu trabalho era observar como os grupos de pessoas viviam e no que isso refletia para os seus contratantes. Muitas vezes era um trabalho chato, repetitivo e estatístico, entretanto lhe agradava muito o fato de ser pago para fazer uma de suas atividades preferidas: observar os diversos comportamentos das pessoas.

Seus amigos advinham principalmente da internet. Antes os conhecer pessoalmente já tinha trocado milhares de mensagens com eles, fazendo com que a primeira vez que se reunissem fosse só a solidificação de relacionamentos que já tinham começado há bastante tempo. E para ele era algo lógico: o mundo digital era o mesmo do mundo ‘real’. A ausência do contato físico não era tão significativa assim, pois as conversas eram as mesmas, embora fosse complicado em alguns momentos explicar algumas expressões e sentimentos.

Sua vida amorosa era alimentada por relacionamentos iniciados quase sempre no mesmo lugar: a Ovelha Negra, um aconchegante bar que ficava no mesmo quarteirão que o seu e que sua proximidade casava perfeitamente com a indisposição de se movimentar para locais longínquos que geralmente lhe ocorria. Era habitué do bar, conhecia os 4 garçons e a caixa pelo nome, uma de suas melhores amigas era a gerente.

Lá, tinha sua mesa quase que cativa. Aparecia pelo menos três vezes por semana, nem que fosse só para tomar o último drink antes de dormir. Estava tão em casa na Ovelha Negra quanto em seu apartamento. Não se sentia confortável em ter a iniciativa em relação às senhoritas que o interessavam. Geralmente, preferia manter-se como uma pessoa misteriosa, porém inteligente e bem humorada. A vida, principalmente no aspecto amoroso, não lhe tinha sido muito bondosa. Ele já sabia que as coisas não eram justas e que só restava fazer o certo para algum dia o certo acontecer com ele.

Hoje, em sua casa, dormia com o coração apertado porque a quem ele mais tinha dedicado atenção e carinho nos últimos meses o tinha trocado por outro. Antoine, o Tom, esperava que seu coração sarasse com o absinto e o tempo. No momento, ele só dormia.

Amongst Hundreds

Zeca já estava cochilando na poltrona. Sonhava que estava no mundo descrito em seu livro, vivia a vida do personagem principal. Era um sonho sombrio, onde ele estava em um lugar ao qual não conhecia, até que apareceu um louco falando em uma linguagem que ele só entendia bem por tanto haver estudado em sua infância:

Trying to fly
To do things by myself
Going alone tonight
I don’t have anybody else
It may not seem cool
But I want to watch ‘n learn
See what they do
See what they yearn
It’s dark
The music is good
People having fun
They’re in the mood
Alone amongst hundreds
In a place I don’t belong
Alone amongst hundreds
Incapable of singing their song
After all this
I’m reaching a conclusion
They’re in a bliss
And I’m in a illusion
Alone amongst hundreds
In a place I don’t belong
Alone amongst hundreds
Incapable of singing their song

Trying to fly
To do things by myself
Going alone tonight
I don’t have anybody else

It may not seem cool
But I want to watch ‘n learn
See what they do
See what they yearn

It’s dark
The music is good
People having fun
They’re in the mood

Alone amongst hundreds
In a place I don’t belong
Alone amongst hundreds
Incapable of singing their song

After all this
I’m reaching a conclusion
They’re in a bliss
And I’m in a illusion

Alone amongst hundreds
In a place I don’t belong
Alone amongst hundreds
Incapable of singing their song

Zeca assustou-se e logo acordou de seu sonho, mais uma vez Jorge gritava de seu quarto.

Ugo.

V.A. – Help!: A Day In Life [destaque pra Kaiser Chiefs tocando I Heard It Through the Grapevine]