Amizade

Longo foi o sono de Zeca, e parece que o de Jorge também, pois Zeca não havia sido interrompido a noite inteira. Ele acordou e foi buscar o jornal. Antes disso, viu o seu irmão deitado na cama, parecia que ele não voltaria ao normal nunca. O que chamou a atenção de Zeca foi uma carta que estava no criado mudo de Jorge.

Como se pode medir uma amizade?

Fico  me perguntando isso porque há momentos em que eu duvido dos outros e momentos em que eu me surpreendo com as pessoas. É necessário que hajam mil declarações-certificado de amizade? É possível que se estabeleça algo da maneira mais sucinta, possível, sem tanta demonstração externa ou interna e que flua da melhor maneira possível?

Sinto que há momentos em que me sinto desconfortável com as posições de pessoas que considero minhas amigas. Me questiono sobre a visão que têm sobre mim por causa do que eu faço, mas ao mesmo tempo fico observando o que fazem em relação a mim e aos outros e tento estabelecer níveis para ver quem gosta mais de quem. Será que isso é realmente necessário?

Essa agressão que acontece muitas vezes, mascarada de forma amigável não quer dizer alguma coisa no fundo, no fundo? Temo que isso signifique que o que temos não seja tão real quanto parece, pode ser algo mais profundo e que esteja vindo à tona em pequenas doses.

O mundo hoje em dia pode não ser o que mais inspire para se fazerem novas amizades, pois a superficialidade vem tomando conta dos novos relacionamentos, porém sinto necessidade de fazer amigos e de manter criar laços fortes de amizade, não algo virtual que se desfaça tão fácil quanto um ‘delete’.  E para isso necessito de transparência

Jorge.

Zeca leu a carta assustado, como Jorge pode escrever isto em meio a seus delírios?

Ugo.

Radiohead – The Bends

Reveillon longe

Passei o reveillon em Maracaípe. Fui pra lá por causa da festa que teve chamada La Lune, a top das tops das festas de reveillon que ocorreram esse ano. Falando sobre a viagem e o pré/pós show foi tudo tranquilo, fui com meu primo Rômulo e um amigo nosso chamado Chico, rolou uma peixada no Bar do Marcão, cervejinha de leve, cochilo da tarde e deu tudo certo, mas o que me motivou a escrever esse post foi onde eu tava.

Maracaípe é uma praia bonita, cheia de gente e tudo mais, porém 99% dos meus amigos tavam em Recife, fosse no Enchanté, fosse na Av. Boa Viagem ou em algum outro canto, mas tavam lá. Eu fui pro La Lune por causa da festa e não dos meus amigos e até agora me pergunto se não teria sido melhor ter ficado por aqui a troco de ir para uma festa menos legal, mas que nela eu teria certeza que encontraria bem mais gente, comemoraria e curtiria mais do que eu fiz lá em Maraca.

Esse post tá bem trash, não tou muito a fim de sair escrevendo pra deixar tudo explicadinho, o que vale é o questionamento festa x amigos que tá ocorrendo agora na minha cabeça.

Ugo.

Teclas Pretas – Nó dos Mais Gravatas

O tempo e a distância

Numa amizade ‘ativa’, a frequência [prefiro com trema] com a qual as pessoas mantém contato pode ser considerada um termômetro do relacionamento. Todo dia falamos com uns preferiti e de vez em quando conversamos com os que não fazem parte desse seleto grupo. Esses favoritos são aqueles que, caso você passe mais de um dia sem falar com eles vai haver um certo estranhamento por parte dos dois. Por mais ‘séria’ que a palavra rotina pareça, ela se aplica aqui. Cria-se esse hábito e com ele uma certa necessidade de gastar uns minutos da vida hablando com os melhores amigos, enquanto tanto faz conversar com os restantes como ignorá-los.

Quando começamos a nos distanciar das pessoas, seja porque agora elas estão ocupadas, seja porque estão passando por situações difíceis ou simplesmente por estarem enchendo o saco de você [lógico que pode ocorrer o inverso em qualquer uma das 3 situações], certamente iremos buscar satisfações porque ninguém gosta de enfraquecer um relacionamento positivo [seja feita a exceção para House]. Depois dessa fase de estranhamento e busca por perguntas, chega um momento em que o novo ‘hábito’ é acostumar-se com essa distanciação. Pararemos de questionar e tentamos dançar conforme o novo ritmo, uma coisa que nem sempre é muito fácil [entenda-se que quanto mais você gostar dessa pessoa, mais difícil fica].

[pausa pra almoçar, pra retomar o raciocínio es fueda]

Com esse comodismo, o relacionamento geralmente se estabiliza num nível bem abaixo do que já foi um dia. Porém, se um dia a pessoa que já orbitou por perto e acabou indo exorbitar lá na casa de chapéu decide voltar a circular pelo sistema ao qual já pertenceu uma vez, ela vai perceber que as coisas não são iguais e que o tempo e a distância [arrá, cheguei no objetivo do post] deterioraram o que já foi um relacionamento forte algum dia. No sistema solar, acho que quando um planeta começa a fazer parte dele há um certo estranhamento por parte dos planetas mais antigos [METAFORICAMENTE] e é assim que acaba acontecendo com esses que depois de certo tempo querem retomar a amizade: voltam ao status de ‘ser estranho’.

É muito possível que nessa tentativa de retomada de relacionamento ‘a vibe não flua’ [como diria Joh] e as coisas nunca voltem a ser o que já foram um dia. Assim como tudo pode voltar ao normal, não é raro isso acontecer, vale ressaltar. Tem também aquelas pessoas especiais que tanto faz ficarem 3 meses ou 10 anos longe [não é ‘tanto faz’ porque ninguém vai querer essa distanciação de alguma pessoa querida] e tudo volte ao normal em pouquíssimo tempo.

Então, basicamente é isso: se você começa a se distanciar de uma pessoa vai ter [possivelmente] bastante dificuldade de reaproximar-se [justamente como sistemas solares, eu acho].

Ugo.

Nuda – Menos Cor, Mais Quem [bom demais esse cd, visitem: www.myspace.com/sitionuda]

Dando a cara a tapa

Frase motivo:

“Como diria o cantor de bolero / Ninguém pode destruir /O coração de um homem sincero”

Esse post parte mais ou menos do confronto entre as frases de duas pessoas famosas, Murphy e o famigerado Biscoito da Sorte [pseudônimo de algum grupo de filósofos chineses gorduchos que nunca quiseram se identificar].

O Biscoito disse:

“Para se formar relacionamentos, a única base acertada é a completa sinceridade”

A Lei de Murphy diz:

“Nada está tão ruim que não possa piorar”

Você provavelmente vai dizer:

“E o que é que uma frase tem a ver com a outra?”

Me resta explicar, então!

Há algum tempo, não sei precisar quanto, mas acho que menos de 1 ano, decidi tentar ser sincero em 99% das coisas com 99% das pessoas[qualquer influência de House não é mera coincidência]. Não é uma missão fácil, uma vez que, creio eu, todos nós façamos usos de mentiras [sejam elas brancas, pretas ou naturais]. Porém, decidi enfrentar essa dificuldade seguindo a seguinte ideia [sem acento, Jockey!]: quem não deve, não teme. Sendo sincero, com todo mundo sabendo tudo, eu serei como sou de verdade e as pessoas não terão de onde inventar coisas sobre mim [tá bom que esse pensamento tá meio parecido com o de um paranóico -famoso ‘norótico’-, mas ele envereda por outros caminhos também, essa é só uma utilidade dele].

Comecei a praticar essa sinceridade sem arrudeios, enrolações, sem nada. Fui direto ao ponto comigo mesmo e comecei a falar a vera com meus amigos, apesar dos resultados não serem nem sempre positivos. A verdade é ácida e o kibe é cru, como diria Antônio Tabet. Como diriam os manos, o papo é reto. Essa missão digna de um Hércules do século XXI [não sei por que diabos ainda usamos números romanos para designar séculos] é só para quem está preparado para ter momentos de felicidade [poucos] e reclamações, revoltas, etc -etc-etc [muitas].

Fui descobrindo a cada dia que muitas pessoas preferem viver numa ilusão de que tudo é perfeito, a vida é bela e adoram jurar que tudo que dizem pra elas é verdadeiro [por sinal, estou ouvindo agora Streetlight Manifesto, música The Big Sleep, e Thomas Kalnolky acabou de dizer ‘how can you lie when you know that you’ll hurt your friends?‘]. Quem consegue evitar isso [da maneira certa, não a la House, a delicadeza em pessoa -ou em personagem-], estará fazendo com que seu amigo evite bater com a cara em alguma coisa que ele jurava que estava correta [mas isso não vai contra o princípio do Sorria e Concorde®, que eu vou abordar qualquer dia desses num post, fiz até o rascunho, mas não tava o suficiente inspirado para escrever o texto completo].

Essas são as duas caras [pelo menos as que eu tou lembrando agora, né. Já passa de 1h30 da manhã e o sono tá afetando o raciocínio, mas não dá pra perder a ideia do texto] de ser sincero. De um lado, você vai estar dando sua cara a tapa, mostrando tudo o que tem para ser mostrado [não peguem o sentido pornográfico da expressão] e não vai ter mais nada a perder [é lógico que sempre haverá a omissão de um fato ou outro, já que ninguém vai ficar se queimando adoidado, só vai evitar ficar escondendo ou inventando histórias que num futuro, breve ou não, serão desmentidas e aí que complica mesmo]. E, do outro lado, estará fazendo um bem [pelo menos é a intenção, não foram todos que entenderam a mensagem comigo] ao amigo, tirando desse ‘País das Maravilhas’ que a pessoa vivia e não saiba que estava a algumas horas/dias/meses de presenciar uma guerra intergalática em seu país entre o exército da verdade e a gangue da mentira [a verdade nem sempre vence, como mostra a política brasileira] e que vão devastar emocionalmente todo habitante dessa ilusão.

Além do mais, quando se inicia uma amizade sincera, as coisas fluem [bem] melhor: você não vai ficar escondendo detalhe A ou detalhe B que julga ser dispensável, ou pior, reprovável [e ainda há a possibilidade de que a pessoa goste do que você pensava ser horrível socialmente falando, sendo que, caso ela não tenha afinidade pelo assunto, só vai simplesmente ignorar -a não ser que você seja um louco babão que fique falando toda hora disso, como alguns torcedores do Botafogo-], você vai compartilhar opiniões verdadeiras em vez de enrolações só para tentar fortificar esse laço de amizade [que vai ser em parte podre] e vai poder discutir porque gosta de X e seu amigo não gosta, sem que um fique tentando favorecer [é lógico que tem que ser seguida a regra do bom senso, para não ficar criando brigas desnecessárias quando você falar que música emo é insuportável e o cara seja o maior fã de Fresno da face da terra -não haverá conciliação nem a pau, não adianta argumentar-].

Acho que dei motivos positivos o suficiente para uma pessoa ser sincera. A parte ruim da brincadeira são os estilões que sempre vão reclamar por estarem ouvindo a verdade. São pessoas que odeiam quando esses Testemunhas-de-Jeovah-da-verdade fiquem batendo em seus castelos mágicos do País da Maravilha em que vivem. Eu sou chato, mas sou sincero. Provavelmente, se não estiver contando a verdade é porque eu não gosto da pessoa [nem assim eu sou de mentir tanto, muito menos difamar], porque de vez em quando tocar o terror é necessário.

Ficaria feliz se vivesse em um mundo sincero, embora isso nunca vá acontecer porque faz parte da natureza humana [e Homeriana – “Eu não estava mentindo! Estava escrevendo ficção com a boca.”-].

Ugo.

Streetlight Manifesto – Everything Goes Numb [um dos cds mais empolgantes que eu já ouvi. Só falta eu dar pinote aqui em casa ouvindo ele]

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