Sobrepujado

Sobrepujado. É uma palavra estranha de se dizer, mas é interessante, é uma palavra com personalidade. Também gosto dela em inglês, “overwhelmed”. Tem várias interpretações para o significado claro dela:

“v.t. Exceder em altura; elevar-se sobre; sobrelevar.
Vencer, dominar, suplantar: sobrepujou o adversário.
Ter a primazia; levar a palma, levar vantagem: o bem público deve sobrejugar os interesses pessoais.
Sobressair, destacar-se: sobrepujar a todos em lealdade.”

tr.v.o·ver·whelmed, o·ver·whelm·ing, o·ver·whelms

1. To surge over and submerge; engulf: waves overwhelming the rocky shoreline.
2.

a. To defeat completely and decisively: Our team overwhelmed the visitors by 40 points.
b. To affect deeply in mind or emotion: Despair overwhelmed me.
3. To present with an excessive amount: They overwhelmed us with expensive gifts.
4. To turn over; upset: The small craft was overwhelmed by the enormous waves.
A minha interpretação é tão alegre como asfixiante. Basicamente é assim que me sinto sobre a vida. Houveram momentos complicados, em que eu passei sobrecarregado entre a universidade e o estagio, escolhendo entre ir para a sala de aula ou ir para o bar, numa tentativa de relaxar a cabeça. Época essa em que eu ainda mal tinha dinheiro para saciar meus vícios e inventar outros.

Passada a tormenta, saindo do túnel quase infindável que me fazia sentir sufocado, me vi diante de um horizonte de possibilidades. Possibilidades essas que provavelmente quase sempre estiveram ao meu redor, mas que não eram contempladas devido à minha situação. Ou que talvez até foram, embora sem a devida atenção.

Agora que posso respirar e entender melhor onde estou e o que sou, me vejo frente a tantas oportunidades, tantos caminhos para tomar, tanta coisa junta, ao mesmo tempo, que me faz sentir… sobrepujado. O mundo é tão grande, há tanta gente para conhecer, tanta coisa nova para fazer.

Acho que durante toda minha vida eu tentei fugir da rotina. Tentei viver diversos mundos de diversas maneiras, fossem elas através de jogos, seriados e livros, fossem elas criadas através da minha própria imaginação e observação ou da minha inquietação constante, pulando de galho em galho buscando sempre uma nova visão da vida.

Será que que querer viver a vida de todas as maneiras possíveis é absurdo e impraticável? Sim, sem dúvidas. Mas pergunto: será que querer viver o máximo possível, evitar a rotina e a repetição, uma maneira tão eufórica de querer viver a vida? Acho que não. Compreendo aqueles que preferem dedicar-se a alguma coisa específica, ou que preferem utilizar seu “tempo vago” para conhecer novas coisas. Infelizmente, isso não se aplica a mim. O previsível é entediaste e agonizante, por mais que haja variações, não vale a pena.
Bukowski disse, apenas dois anos antes de morrer, algo que eu achei interessante. Ele estava vendo uma luta de boxe e o favorito tinha ganhado de seu adversário com tranquilidade. Ele falou:
Bom, que demônios, pagamos para ver exatamente aquilo que esperávamos ver.
É terrível pensar no enorme número de possibilidades que perdemos a cada dia passado. Não sei porque as pessoas vivem na paranoia da perfeição e dedicação japonesa. Talvez eles tenham sido a nação que melhor soube arrebanhar seu povo. Não sem efeitos colaterais: é só procurar para ver o estresse no qual vivem e os distúrbios sociais cada vez mais frequentes nessa geração.

Eu quero ter a liberdade de ser o mestre dos disfarces, capaz de transitar sem ser percebido, de viver mil vidas nesse pouco tempo que tenho aqui.

Ainda assim, acho que as pessoas devem viver a vida da maneira como quiserem e não tenho direito algum de me intrometer. Isto aqui é apenas um desabafo, uma pequena declaração de que, de uma maneira ou outra, “o gigante acordou”, ou pelo menos ele está se espreguiçando.

Ugo.

Delírios

Zeca estava sentado na sala lendo um livro, quando Jorge chegou discursando freneticamente:

O problema é que eu tenho o coração vazio e preciso de alguém para preenchê-lo.
Vejo em cada uma a possibilidade, a esperança.
Não é a coisa mais certa, não é a coisa mais bonita, mas a necessidade sempre fez o homem e comigo não seria diferente.
Tenho minha estrela guia, a mais desejada, a mais amada. Não obstante, o espaço não está reservado a ela, só é dada a preferência.
O que poderia impedir-me de que uma mulher bondosa, de boas intenções, hábitos e feições se aproximasse?
É uma solução para quem não tem nada e que sua preferida o esnobe a cada conversa, não é?
Em relação a ser amado, isso não dependeria de mim, dependeria dela. A mim cabe amá-la, porém não entendo a definição clara de amar.
Resume-se a companhia e fidelidade? Ora, isso posso fazer sem o mínimo afeto. Preciso de algo mais além disso, preciso saber o que fazer.
Posso aprender a amar, porém preciso de alguém para praticar, afinal, sozinho é impossível.

Zeca ficou parado, pensando. Desde que a febre o atingiu, seus delírios eram cada vez mais constantes. O médico disse para ter calma, pois a medicação não demorará para fazer efeito.

Ugo.

Seu Jorge – América Brasil [montando um repertório samba-rock esperto ;)]

Hay que arrochar sin perder la compostura

Estive pensando agora sobre a grande timidez que me assombrava no passado. Não que eu tenha superado ela totalmente, mas em boa parte sim, com total certeza. Hoje em dia, principalmente no meu curso de administração, é essencial que uma pessoa sinta-se a vontade para falar em público, consiga manter sua compostura e passe sua mensagem de forma clara e objetiva, mas nem todos são assim.

Eu lembro de quando estudava no Colégio Boa Viagem que teve um amigo meu que deixou de apresentar vários trabalhos por crises de timidez que o ‘travavam’ totalmente. Ele simplesmente não conseguia dizer um ‘ai’ e por isso acabava apresentando o trabalho particularmente aos professores. Isso é uma coisa horrível, pois ninguém pode ascender na vida sem conseguir expressar-se perante a uma grande quantidade de gente, já que certamente em algum momento da vida, algum discurso/palestra/qualquer-coisa-do-tipo será necessário para consolidar seja lá um cargo ou uma carreira como professor/palestrante/diretor de alguma empresa.

Na minha vida, sempre fui tímido. Sou até hoje em algumas situações. Entretanto, com o passar da vida, comecei a pensar por que diabos eu teria medo de falar em público ou apresentar-me na frente do povo. É fato de que, normalmente, ou seja: sem a pessoa ter sido mordida anteriormente por um zumbi/vampiro/chupacabra, os seres humanos não mordem. Tampouco podem fazer alguma coisa tenebrosa, a não ser que haja um rebelde no auditório/sala/lugar-onde-você-esteja-discursando que saia dando tiros ou atirando pedras, coisa bastante improvável.

Vi que uma coisa era importante: saber do que se está falando. Uma pessoa tímida não tem muita capacidade de improvisação quando se fala de um tema que não foi antes estudado a fundo e isso vai causar um enorme desconforto se perguntarem algo mais complexo. É clara a necessidade de se saber sobre o que vai ser discutido para poder haver um desenrolar de conversa mais tranquilo e menos traumático. Atualmente, sinto que consegui desenvolver a capacidade de conversar sobre alguns assuntos bem escabrosos que eu antes nunca tinha ido a fundo, mas não é o ideal, isso é só uma maneira de evitar travar na conversa e prossegui-la sem transtornos. Pra quem quer ser um blefador de qualidade, recomendo os Manuais do Blefador, que vão dar uma visão geral sobre vários assuntos e você vai enrolar direitinho, mostrando que é o bambambam dos assuntos. Nunca li esses livros, se bem que queria, mas meu tio leu e até hoje ele fala sobre a nouvelle vague e o ballet russo com maestria.

Eu acho que aprendi minha lição sobre timidez perante grupos de pessoas. Infelizmente não é o único tipo que existe, então tenho que trabalhar para conseguir ser mais solto em outros aspectos também. Espero que quem tenha algum tipo de timidez pare para refletir e acabe concordando que isso não leva a nada e é questão de alguns dias pensando sobre esse assunto e alguns outros dias exercitando a ‘falta de timidez’. Depois que se a pessoa está bem treinada, é só chegar na hora de fazer um discurso/apresentação e arrochar sin perder la compostura!

Ugo.

Streetlight Manifesto – Everything Goes Numb [um dos cds mais upbeat que já ouvi. me empolgo bagarai ouvindo]