Queria ser escritor

Ele andava chateado com seu trabalho, sentia que não tinha nascido pra isso. A burocracia estava comendo suas entranhas e inflamando seus nervos, a indecisão da sua vida tomava suas noites de sono e o sossego de seus fins de semana. Estava difícil achar uma luz no fim do túnel e ele sabia.

Ainda assim, sonhava em ser escritor. Ficaria em casa ouvindo música e escrevendo tudo que surgia de sua imaginação, talvez viajaria também para outros países para coletar o conteúdo do seu próximo livro. Criaria um blog e uma página no Facebook para se relacionar com suas dezenas de milhares de fãs e seria rico. Best-sellers, o glamour das festas de lançamento de livros e todo o relacionamento com a high society.

Não teria de se preocupar com horários, com obrigações, com chefes nem processos inacabados e inacabáveis. Era só sentar e escrever, sentar e escrever, sentar e escrever… Seria um escritor famoso, mas não tinha ideia nem sobre o que falar.  Não lembrava de algum assunto que conhece bem o suficientemente para abordar ou de alguma história interessante ou engraçada e ficava angustiado por saber o que queria fazer e não poder por incapacidade própria.

Na pausa do cafézinho, saiu do escritório e foi andar na rua, tentando pensar em algo interessante para falar. Viu uma apresentação de rua e em um instante se distraiu dos pensamentos que o torturavam.

Tudo que ele queria era ser escritor, mas não escreveu nenhuma palavra e, no final das contas, nunca foi.

Ugo.